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É preciso uma crise para me fazer escrever, ao que parece. Vinte e cinco anos. Por extenso parece uma eternidade: ímagine se puder esse espaço de tempo. Já é madrugada do dia seguinte ao meu aniversário, e com toda sinceridade proporcionada pela obscuridade desse meu lugar, foi um dia como outros incontáveis, senão pior. Não posso dizer que não construí nada nesse quarto de século, mas posso categoricamente afirmar que estou insatisfeito com tudo. Para começar, acertei de primeira o curso universitário que sacia minha fome intelectual, e pretendo fazer grandes coisas com essa formação - em contrapartida, minha compulsão quase patológica por procrastinação pode me levar ao júbilo; Em seguida, nem todo meu erudito conhecimento é capaz de me arrecadar um único centavo. Estou vivendo a trocados - e me odiando um pouco mais a cada dia por isso. Toda a promessa que outrora eu tinha, foi-se no tempo: hoje não vejo a razão de ouvir que o mundo perderia algo com a minha ausência no ambiente aca

Não Há Nada Aqui

Não há nada aqui. Ainda, ou talvez para sempre. Quando vejo a página que criei para ser dedicada a mim e meus devaneios assim, vazia, traindo-me desta maneira tão crua, não sinto que há nada mais a declarar. Tudo está dito, sem que esteja. São quase cinco da tarde agora. A música tocando nos fones me retira do presente e sinto-me novamente no colegial (talvez por isso tive o ímpeto de escrever). Escrevi, há muito tempo e numa outra plataforma, que diversos eu do passado morreram para dar lugar ao eu do presente - daquele presente, isto é. Hoje percebo que isso não era de todo correto. De vez em quando me pego sentindo e lembrando de coisas que se passaram em outras vidas, com outros eu dos quais me desassocio com frequência. Quando é um esforço consciente de caminhar pela estrada da nostalgia, vejo tudo de maneira isométrica, como se vivesse uma experiência de quase-morte; mas ao que me refiro agora é outra coisa. São lampejos de vida que se manifestam, criando uma lembrança vívida, ai